segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Crise pode levar a cortes drásticos na actividade das "secretas" em 2011

O PÚBLICO sabe que a "secreta" tem atravessado dificuldades de tesouraria graves desde o Verão. Apesar dos apertos, segundo fontes internas, manteve-se a actividade "no nível mínimo essencial". Agora que se aproxima o fim do ano, admite-se o recurso à dotação provisional. No Serviço de Informações e Segurança (SIS) também há problemas: as verbas para preparação da cimeira da NATO de Lisboa, em Novembro, já estão "fora" do orçamento.


Operações canceladas

Para o próximo ano, e com os cortes previstos para o SIED e o SIS no Orçamento do Estado de 2011 (de 10 a 15 por cento), o serviço externo pode entrar numa situação de grandes dificuldades operacionais. 

Um dos cenários, sabe o PÚBLICO, pode passar pelo encerramento de duas ou três "estações" do SIED no estrangeiro (esses cenários estão a ser preparados). Outro é dispensar funcionários que trabalhem há menos tempo no serviço - os que entraram no serviço nos últimos três anos. E essa possibilidade preocupa os deputados da comissão de Defesa Nacional, a quem chega, regularmente, informação sobre as dificuldades do serviço. 

Fontes consultadas pelo PÚBLICO explicam as dificuldades com as despesas avultadas com as "estações" no estrangeiro do SIED e o crescimento do quadro de pessoal - o que acontece nos dois serviços e nos departamentos comuns, sob a dependência de Júlio Pereira, secretário-geral do Sistema de Informações da República Portuguesa (SIRP) -, seguindo um plano delineado em 2005. As novas contratações custarão cerca de 1,2 milhões de euros/ano.

Acontece ainda que, segundo fontes dos serviços, o SIED cancelou em 2010 várias operações conjuntas com serviços estrangeiros. Foram também anuladas acções de formação com vários serviços estrangeiros, entre eles de Angola. 

O SIED atingiu esta situação de ruptura, na descrição das mesmas fontes, devido por "gastos substanciais". Que se explicam por o quadro de pessoal ter crescido, e muito, desde 2005. Com a abertura de "estações" em vários países, em África e na Ásia (há doze ao todo, além de Bruxelas), os gastos dispararam. 

Governo travou aumentos 

Este ano, a crise levou os serviços a cancelar, quer os concursos para 2011, quer admissões previstas para este ano, de acordo com fontes internas. Em 2010, houve gastos, desde o início, sem previsão orçamental, como a admissão de pessoal em 2009 e substituição de pessoal nas "estações" no estrangeiro. Os custos com as "estações", cuja utilidade é questionada entre a comunidade de intelligence, eram este ano uma parte importante do orçamento do SIED: cerca de 1,5 milhões de euros em cerca de oito milhões.

No princípio do ano, o Governo e o PSD chegaram a negociar um aumento de verbas - mais três milhões de euros - para o SIS e o SIED. Deputados disseram ao PÚBLICO que chegou a haver um entendimento de princípio com o Executivo. Que fez marcha-atrás. Justificação: os cortes orçamentais teriam de atingir todos. E como, organicamente, os orçamentos dos dois serviços estão na dependência do primeiro-ministro, politicamente, quis dar o exemplo. 

Mas os problemas não são apenas financeiros. O clima de instabilidade é também explicado por fontes dos serviços e deputados pelo cenário da eventual saída de Júlio Pereira de secretário-geral do SIRP. E há dois candidatos naturais: o director do SIED, Jorge Silva Carvalho, e o director do SIS, Antero Luís. 

A substituição de várias chefias no SIED causou momentos delicados nos últimos meses no serviço. A direcção do SIED, chefiado por Jorge Silva Carvalho, um profissional da intelligence que iniciou a carreira no SIS, fez mudanças que causaram reacções internas. Houve queixas quanto a inexperiência de alguns dos escolhidos (a começar pelo director adjunto) e mal-estar com a entrada nos serviços, noticiada pela revista Sábado, de filhos de personalidades públicas. Há ainda reacções negativas - há quem fale em "colonização"- quanto ao número de quadros do SIS no SIED, em vários postos, tanto interna como externamente.


É sempre bom saber que a República anda (des)informada. Assim se vai no reino do Rei Sócrates. 



Sem comentários:

Enviar um comentário